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Mundo

Em meio à crise Rússia-Ucrânia, premiê húngaro visita Putin

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Em visita a Moscou agendada para esta terça-feira (01/02), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, busca conseguir de Vladimir Putin um crescimento no fornecimento de gás russo a seu país e discutir o progresso do projeto da usina nuclear de Paks, que tem apoio da Rússia. Entretanto, as tensões envolvendo a Ucrânia ofuscam o encontro.

“Obviamente, não podemos evitar falar sobre a situação de segurança na Europa, onde a posição da Hungria é completamente clara. Estamos interessados na paz”, disse Orbán em entrevista na semana passada. Ele acrescentou que discutiria negociações de segurança com autoridades da UE e da Otan antes de se encontrar com o presidente Putin.

Daniel Hegedüs, especialista em Europa Central e pesquisador visitante do think tank German Marshall Fund, acredita que o timing desta reunião é simbólico.

“Esta é a 11ª reunião pessoal entre Putin e Orbán, e o momento em que ocorre envia uma mensagem simbólica para Putin, porque mostra a ele que nem todas as nações da UE o evitaram por causa da crise na Ucrânia. Um encontro similar também ocorreu após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, fazendo com que muitos questionem se a Hungria seria como o cavalo de Troia do Kremlin no Ocidente”, afirma, em entrevista à DW.

“Dois coelhos”

“Mas através desta reunião, o primeiro-ministro Orbán está disposto a acertar dois coelhos com uma cajadada só. Por um lado, ele deseja manter a relação especial de seu país com a Rússia. Por outro lado, à luz das próximas eleições húngaras, ele deseja atender às necessidades energéticas de seu país e busca aumentar o volume de fornecimento de gás do Kremlin”, acrescenta.

Desde que Orbán assumiu o poder como primeiro-ministro da Hungria, em 2014, ele tem realizado reuniões regulares com o presidente Putin. As negociações sobre o fornecimento de energia sempre foram uma parte fundamental dessas reuniões.

Segundo András Rácz, pesquisador sênior do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP, na sigla em alemão), a política multifacetada de Orbán para tornar seu país autossuficiente na produção de energia também beneficia o Kremlin.

“Em 2014, a Hungria assinou um contrato com a empresa estatal russa de energia nuclear Rosatom, para expandir a usina nuclear de Paks na Hungria, construindo dois reatores atômicos. O projeto é financiado por um empréstimo de 10 bilhões de euros da Rússia e é um elemento-chave também para a melhoria das relações comerciais entre Rússia e Hungria”, afirma.

“Antes deste acordo, a Rosatom tinha projetos em todo o mundo, menos na UE. Assinar este acordo com a Hungria foi muito importante para a companhia, porque muitos acreditam que se você é bom o suficiente para a UE, você é bom o suficiente qualquer lugar”, acrescenta.

Embora o projeto tenha sofrido muitos atrasos, o ministro do Exterior da Hungria, Peter Szijjarto, disse à agência de notícias estatal russa Tass que a Hungria deseja que o projeto “entre na fase de estabelecimento” no primeiro semestre de 2022.

Suprimento de gás

Szijjarto também disse que o aumento da oferta anual de gás seria uma parte fundamental das negociações com Putin, em meio à disparada dos preços da energia na Europa.

Em setembro de 2021, a Hungria assinou um contrato de gás de longo prazo com a Gazprom da Rússia, garantindo que 4,5 bilhões de metros cúbicos de gás russo serão fornecidos à Hungria via Sérvia e Áustria, contornando a Ucrânia.

Mas o contrato de gás irritou as autoridades ucranianas no ano passado. O ministro do Exterior da Ucrânia disse que o acordo foi assinado “para desafiar os interesses nacionais da Ucrânia e as relações ucranianas-húngaras”.

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Usina nuclear de Paks, na Hungria, construída com apoio da Rússia

Além disso, em meio ao atual cenário geopolítico na Ucrânia, o encontro de Orbán com o presidente russo causou surpresa na própria Hungria.

A oposição divulgou um comunicado na semana passada, pedindo ao primeiro-ministro que cancele a reunião, explicando que a reunião “envia uma mensagem de que a Otan e os países membros da UE não estão unidos em rejeitar as propostas de Putin”.

Oeg Ignatov, analista sênior do International Crisis Group, explica que, embora os principais trunfos de Orbán sejam o pragmatismo e fazer o que é mais benéfico para seu país, ele tem uma relação complicada com a Rússia.

“Só posso dizer que Orbán conseguiu tudo o que precisava da Rússia – um contrato de gás muito favorável. Os termos desse contrato também são melhores do que os de alguns outros compradores de gás russo. Ao mesmo tempo, a Hungria não diverge dos termos da política da UE em relação à Rússia”, disse ele à DW.

Interesse em fim das tensões

À medida que as tensões sobre as ações do Kremlin na Ucrânia aumentam, alguns países europeus do grupo Visegrad – Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia – têm apoiado os esforços militares da Otan na Ucrânia. Mas a Hungria ameaçou ficar de fora por causa de muitos desentendimentos anteriores com a Ucrânia.

Entretanto, Ignatov explica que, embora a Hungria e a Ucrânia tenham seus próprios problemas em relação aos direitos dos húngaros que vivem na Ucrânia, não há evidências de que a Hungria tome uma posição diferente da UE em relação à segurança europeia.

Além dos esforços da Otan, os líderes dos EUA e da UE também debatem a imposição de sanções à Rússia, que incluem proibições comerciais e cortes no fornecimento de energia. Hegedüs. do GMF, destaca que enquanto as sanções estão na mesa, para Orbán, mitigar a crise também atende aos seus interesses nacionais.

“A Europa Oriental é altamente dependente do fornecimento de gás russo, e Orbán sabe como uma invasão da Ucrânia pode prejudicar o fornecimento de gás”, diz ele à DW. “Além disso, a Hungria tem uma política externa multilateral. Portanto, uma invasão da Ucrânia também colocaria Orbán em uma situação difícil, na qual, como membro da Otan e da UE, ele teria que equilibrar as questões entre o Ocidente e, ao mesmo tempo, ouvir o Kremlin para manter seu relacionamento especial.”

Fonte: DW Internacional

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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