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Oriente Médio

Dois anos após explosão, vítimas de Beirute registram queixa em tribunal dos EUA

Tragédia que matou pelo menos 215 pessoas e deixou mais 6 mil feridos completa dois anos nesta quinta-feira (4); investigações não foram concluídas

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Em 4 de agosto de 2020, pelo menos 215 pessoas morreram e outras 6 mil ficaram feridas após uma explosão química no porto de Beirute, no Líbano. Dois anos após a tragédia, nove das vítimas registraram queixa contra a empresa TGS, que teria relação com a embarcação onde estavam produtos químicos altamente explosivos.

No processo, os solicitantes apresentaram uma reclamação de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) contra a companhia norte-americana norueguesa. Os advogados das vítimas afirmaram à Reuters que a empresa é “responsável” pelos danos causados pela explosão.

Procurada pela CNN, a TGS afirmou que foi informada sobre a ação judicial. “Negamos toda e qualquer alegação levantada no processo, e pretendemos defender vigorosamente este assunto em tribunal. Uma resposta formal à ação judicial será apresentada no tempo adequado”, disse em comunicado.

Embora à investigação tenha progredido pouco desde o acontecimento, na época dos fatos, o então primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, disse que a explosão foi causada por 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam armazenadas no porto.

Os produtos químicos extremamente explosivos chegaram ao local a bordo da embarcação Rhosus, de bandeira moldova, em 2013. A carga, que é utilizada como matéria-prima na produção de fertilizantes, permaneceu no porto até explodir em 4 de agosto de 2020.

A força da explosão foi equivalente a um terremoto de magnitude 3,3 na escala Richter, deixando estragos em um raio de 10 quilômetros.

Segundo a Reuters, o Rhosus havia sido subfretado em 2012 pela empresa de estudos sísmicos Spectrum, que foi adquirida pela organização de serviços geofísicos TGS sete anos depois. A empresa possui sede corporativa em Oslo, na Noruega, e sede operacional em Houston, no Texas, além de escritórios em outros países.

De acordo com a TGS, um levantamento chegou a ser conduzido no Líbano em 2013 por um subcontratado em nome da Spectrum. Sem citar a embarcação, a empresa afirma que as alegações no processo tentam relacionar as investigações de 2013 e 2020.

“Após o incidente em 2020, houve inquéritos sobre o levantamento conduzidos em 2013. Nessa altura, foi realizada uma investigação abrangente, que confirmou que a Spectrum agiu diligentemente na sua condução do inquérito e não teve qualquer responsabilidade pelo incidente de Beirute”, informou a companhia por meio de nota.

Relembre os acontecimentos

Uma nuvem de fumaça vermelha pairou sobre a capital libanesa após um barulho ensurdecedor, enquanto bombeiros corriam para o porto para tentar conter o fogo.

Uma moradora da cidade que estava longe da explosão disse que suas janelas foram destruídas pelo ocorrido.

“O que eu senti parecia um terremoto”, Rania Marsi disse à CNN. “O apartamento balançou horizontalmente e de repente parecia uma explosão, as janelas e portas se abriram com força. Os vidros se estilhaçaram. Muitas casas foram danificadas ou destruídas”, acrescentou.

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Momento da explosão de grande impacto em Beirute, no Líbano / Reprodução/CNN (4.ago.2020)

A explosão no porto de Beirute também atingiu os escritórios do ex-primeiro-ministro do país Saad Hariri e da sucursal da CNN, na região central de Beirute.

“Vi uma bola de fogo e fumaça subindo sobre Beirute. As pessoas estavam gritando e correndo, sangrando. Varandas foram arrancadas de edifícios. Os vidros dos arranha-céus quebraram e caíram na rua”, disse uma testemunha à agência Reuters.

Imagens da cidade após a explosão mostram edifícios e automóveis completamente destruídos, além de todo o tipo de entulho cobrindo o chão.

Os hospitais ficaram lotados de feridos, enquanto equipes da Cruz Vermelha atuavam nas ruas para resgatar sobreviventes.

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Bombeiros retiram homem ferido do local de explosão em Beirute, no Líbano / Foto: Mohamed Azakir/Reuters (4.ago.2020)

Segundo o relato de um produtor da CNN em Beirute, a emergência de um dos hospitais da capital apresentava “cena caótica”. Poucas horas após o ocorrido, Ghazi Balkiz afirmou que viu médicos realizando triagens no meio dos corredores diante da quantidade de pessoas que chegavam à unidade.

Em meio ao caos, o número de mortos e feridos foi crescendo no decorrer dos dias até superar as 200 vítimas fatais e mais de 6 mil feridas. O dano material foi estimado entre US$ 3,8 e US$ 4,6 bilhões (entre R$20 e R$ 24 bilhões).

Consequências políticas

Seis dias após a explosão, diante de uma onda de protestos e forte crise econômica, o governo libanês anunciou sua renúncia.

“Estamos indo um passo para trás para ficar do lado do povo e lutar com eles a batalha da mudança. Nós queremos abrir a porta perante a salvação nacional para que todos os libaneses participem da criação desse projeto. É por isso que eu anuncio hoje a demissão deste gabinete. Que Deus proteja o Líbano”, disse Hassan Diab, em seu pronunciamento.

Depois de um ano sob governos provisórios, um novo gabinete de ministros foi formado, em setembro de 2021. Najib Mikati, um bilionário que já havia ocupado o cargo, assumiu como premiê.

Antes de Mikati dois outros políticos tentaram formar um governo após a renúncia de Hassan Diab: Mustapha Adib e Saad al-Hariri. Ambos renunciaram diante dos impasses políticos envolvendo o país.

Investigação

A investigação sobre a explosão progrediu pouco nos últimos dois anos. De lá para cá, o primeiro juiz nomeado para o caso, Fadi Sawan, foi removido e o seu sucessor, Tarek Bitar, enfrenta dificuldades para avançar.

Sawan foi retirado em fevereiro de 2021 depois que um tribunal aceitou o pedido de dois dos ex-ministros acusados pelo magistrado de negligência — Ali Hassan Khalil e Ghazi Zeaite.

Khalil e Zeaiter, um terceiro ex-ministro e o então primeiro-ministro, Hassan Diab, declararam-se inocentes frente às acusações de Sawan, recusaram-se a ser interrogados e acusaram o juiz de abuso de poder.

A Reuters chegou a ter acesso a um documento que comprovava que o presidente e o primeiro-ministro do Líbano estavam cientes, antes da explosão, dos riscos representados pelas toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto.

Pouco depois do aniversário de um ano da tragédia, o juiz Bitar emitiu ao menos dois mandados de prisão: contra o legislador Ali Hassan Khalil, um alto funcionário da Amal e ex-ministro das Finanças e o ex-ministro de obras públicas Youssef Finianos. Ambos não chegaram a ser implementados.

De acordo com um relatório da Human Rights Watch realizado em agosto de 2021, Bitar investigou mais de uma teoria sobre o que teria provocado a explosão. As três principais foram:

  • Faíscas de soldagem causaram um incêndio no armazém onde o produto químico estava;
  • Explosão intencional;
  • Ataque israelense acendeu o nitrato de amônio, embora autoridades tenham relatado que os sistemas locais de radar não detectaram aeronaves militares sobre o espaço aéreo libanês; as autoridades israelenses tenham negado envolvimento, e o próprio juiz tenha dito que a opção era altamente improvável.

A investigação de Bitar desencadeou posicionamentos contrários entre grupos religiosos atuantes no país. Enquanto o bloco cristão Movimento Patriótico Livre defendia a atuação do juiz, o grupo xiita Hezbollah se opôs à investigação.

Em meio às dúvidas que restaram após a tragédia, no último domingo (31), parte dos silos (reservatórios) do porto de Beirute desabou após um incêndio queimar o local por semanas.

No dia do desabamento, o ministro libanês dos Transportes, Ali Hamie, disse à Reuters que outras partes da estrutura ainda podem colapsar.

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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