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Saúde

Setembro Amarelo: de Van Gogh a Mike Emme

Todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama - ou guerras e homicídios.

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Vincent Van Gogh, o pintor holandês que se deslumbrava pela cor amarela

Amplamente pintadas com a cor amarela, Esplanada do Café à Noite, A Avenida dos Alyscamps ou A Casa Amarela são algumas famosas pinturas de Vincent Van Gogh, pintor holandês, de estilo pós-impressionista, que viveu entre 1853 e 1890. Ele foi um dos pintores mais importantes de todos os tempos e, apesar de tanto talento tendo feito 860 pinturas a óleo, incluídas em um total de 2.100 peças de arte criadas por ele, sua vida foi abalada pela tristeza e depressão constantes, levando-o ao suicídio aos seus 37 anos de idade.

Conforme explica reportagem da BBC, a indiscutível preferência do pintor pela cor amarela tem sido associada a uma contaminação por dedaleira (Digitalis purpurea), utilizada na medicina para o tratamento de diversas doenças. Na época de Van Gogh, a dedaleira era usada para tratar crises maníaco-depressivas. O pintor costumava usá-la na tentativa de amenizar as crises que assombravam seu corpo e mente, pois lhe eram atribuídas propriedades sedativas e antiepilépticas.

O significado da cor amarela

De acordo com o site significados.com, a cor amarela significa luz, calor, descontração, otimismo e alegria. O amarelo simboliza o sol, o verão, a prosperidade e a felicidade. É uma cor inspiradora e que desperta a criatividade. Estimula as atividades mentais e o raciocínio.

As duas razões para setembro ser amarelo

Apesar das conexões de Van Gogh com a cor amarela e a sua vida depressiva que resultou em suicídio e do significado alegre expressado pela cor em questão, as duas razões pelas quais setembro é amarelo tem origem bem diferente:

1. O mês de setembro foi o escolhido porquê no dia 10 de setembro é o Dia Internacional de Prevenção do Suicídio

2. Em 1994, um jovem de 17 anos chamado Mike Emme, que morava com os seus pais em Westminster, cidade no Colorado, nos Estados Unidos, se matou dentro de seu Ford Mustang 1968. O Mustang Amarelo, segundo os amigos de Mike, era seu principal passatempo. Mike reformou o carro e o havia pintado de amarelo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer redução das taxas de suicídio em pelo menos um terço até 2030

No último mês de junho em Genebra, na Suiça, a OMS publicou o relatório “Suicide worldwide in 2019”, algo como “O suicídio pelo mundo em 2019”. Nele, a organização aponta que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo. Todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios. Em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio: uma em cada 100 mortes, o que levou a OMS a produzir novas orientações para ajudar os países a melhorarem a prevenção do suicídio e atendimento.

“Não podemos – e não devemos – ignorar o suicídio”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde. “Cada um deles é uma tragédia. Nossa atenção à prevenção do suicídio é ainda mais importante agora, depois de muitos meses convivendo com a pandemia de COVID-19, com muitos dos fatores de risco para suicídio – perda de emprego, estresse financeiro e isolamento social – ainda muito presentes. A nova orientação que a OMS lança hoje fornece um caminho claro para intensificar os esforços de prevenção do suicídio.”

Uma conversa com a Psicóloga Lisandra Garcia sobre suicídio

Psicologa Clinica Lisandra Garcia
Lisandra Garcia, Psicóloga Clínica, responsável pela Clínica Compartilhar

Lisandra nos falou um pouco sobre a questão do suicídio, fala na qual, incialmente, ela diz que a principal importância da campanha Setembro Amarelo é a conscientização sobre a prevenção do suicídio, essa data é dedicada à valorização da vida e busca alertar a população a respeito da realidade da prática no Brasil e no mundo.

Mundialmente, a taxa de suicídio está diminuindo; nas Américas, subindo.

Segundo o relatório da OMS, as taxas de suicídio caíram nos 20 anos entre 2000 e 2019, com a taxa global diminuindo 36%, diminuições variando de 17% na região do Mediterrâneo Oriental a 47% na região europeia e 49% no Pacífico Ocidental. Mas na Região das Américas, as taxas aumentaram 17% no mesmo período.

A Psicóloga Lisandra afirma que o preconceito a respeito do assunto denota ignorância e sempre é uma opinião desfavorável. Baseia-se unicamente em um sentimento hostil, motivado por hábitos de julgamento e generalizações apressadas. A mãe do preconceito é a pouca informação. No caso específico da depressão, no mais das vezes, a doença vem acompanhada da vergonha do diagnóstico. Além disso, a recusa do tratamento medicamentoso e a aversão a psiquiatras também estão incluídas nesse tipo de discriminação.

LIVE LIFE (Viver a vida)

Para apoiar os países em seus esforços, a OMS lançou um guia abrangente para a implementação de sua abordagem “LIVE LIFE” para a prevenção do suicídio. As quatro estratégias desta abordagem são:

1. limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo altamente perigosos;

2. educar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio;

3. promover habilidades socioemocionais para a vida em adolescentes; e

4. identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.

Escutar e estar próximo à pessoa que está com tendências suicidas é muito importante para ajudá-la. Lisandra declara que auxiliar na prevenção do suicídio é, antes de tudo, promover a vida. É necessário falar sobre o tema para minimizar mitos, tabus e tratar o assunto com a seriedade que exige. Práticas como doar um pouco do seu tempo para escutar o outro sem interrupções, sem pressa e sem julgamentos é importante. Evitar comparações, acolher e não oferecer soluções prontas e se dispor a ajudar são práticas importantes.

Identificação precoce e acompanhamento de pessoas em risco

A ajuda de um profissional é muito importante nesta fase difícil: faz-se necessário que as pessoas entendam que o simples conversar é importante para que a pessoa que está com depressão ou em sofrimento dê um primeiro passo, porém, aquele que não é habilitado ou não reúne capacidade técnica não pode pensar que sua intervenção curará o doente. Ou seja, o auxílio do profissional de saúde é imprescindível, afirma Lisandra.

O OMS explica que a identificação, avaliação, gestão e acompanhamento precoces aplicam-se a pessoas que tentaram suicídio ou são consideradas em risco. Uma tentativa anterior de suicídio é um dos fatores de risco mais importantes para um futuro suicídio. Além disso, assim como Lisandra, a Organização Mundial da Saúda também enfatiza a importância de um profissional habilitado e de bons serviços de emergência: os profissionais de saúde devem ser capacitados para a identificação, avaliação, gestão e acompanhamento precoces. Grupos de pessoas que perderam alguém por suicídio podem complementar o apoio fornecido pelos serviços de saúde. Os serviços de emergência também devem estar disponíveis para fornecer apoio imediato a indivíduos em situação crítica.

Os preconceitos que pairam sobre o suicídio

As pessoas que sofrem de depressão, transtorno bipolar ou drogadição estão no grupo principal de suicidas, conforme aponta o site setembroamarelo.com e sobre elas rondam muitos preconceitos, tais como falta de Deus ou religião, comparações entre pessoas, achismos, depressão é só uma fase, entre outros. Para isso, Lisandra é clara ao expressar a importância de derrubar preconceitos e achismos: depressão não é brincadeira. Depressão não se cura com conselhos ou achismos. Depressão não se cura comparando o paciente com outras pessoas.

Na minha trajetória profissional me deparei por diversas vezes com pessoas que, ao escutarem que o diagnóstico de seu familiar era depressão, tentavam “ajudar” se utilizando de frases descabidas, tais como: “Ele tem de tudo”, ou “Ele é um profissional respeitado”, ou ainda “Ele conseguiu juntar bastante dinheiro”, afirma ela.

Esse comportamento deve ser repudiado. Trata-se de verdadeiro absurdo que em nada ajuda. Pelo contrário. Faz com que a pessoa depressiva se sinta ainda mais inferiorizada, continua Lisandra.

A quem vem um psicólogo?

A atuação do psicólogo no tratamento da depressão e na prevenção de suicídios tem por objetivo orientar o paciente a entrar em contato com suas angústias mais profundas e assim auxilia-lo a lidar com elas, aponta Lisandra. Na psicoterapia, o profissional busca entender a visão de mundo, as crenças, as aspirações e tudo aquilo que é importante para o indivíduo e que, não raro, originariamente deflagrou seu sofrimento.

Além disso, Lisandra explica que, guardadas as proporções e importância de uma religião ou de acreditar em algo na vida, um padre em si, não tem o poder de curar uma pessoa que aponta tendências suicidas: com muita tristeza se ouve e se lê a respeito de pessoas acometidas pela depressão e que iniciaram tratamentos que estavam em vias de serem bem-sucedidos até que alguém levou o doente à presença de padres ou pastores que determinaram a interrupção do tratamento sob o argumento de que apenas a religião os salvaria e que, infelizmente, acabaram cometendo o suicídio. Religiosos não são aptos a recomendar interrupção de tratamentos médicos e, inclusive, em ocorrendo algo de maior gravidade, podem responder por isso. Urge, sobretudo, que religiosos tenham responsabilidade em relação a uma doença tão séria como a depressão, explica ela.

Uma mensagem a todos nós

O que percebo é que a pessoa acometida por uma depressão severa a ponto de pensar em suicídio não mais possui discernimento para “enxergar o outro lado”. E este “outro lado” chamado Vida, apesar dos desafios, é belo e renasce todos os dias com inúmeras possibilidades. Porém, o paciente cego pela doença só vê o muro e não mais a janela. Portanto, a mensagem que deixo, após minha experiência com pacientes depressivos e que venceram este mal é que na vida tudo é janela; o muro somos nós que criamos, finaliza Lisandra.

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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