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Cultura

Impressão de livro sobre delação de Anne Frank é suspensa

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A editora holandesa Ambo Anthos, que publicou o livro A traição de Anne Frank em 18 de janeiro, informou que suspendeu a impressão da obra devido a possíveis falhas na investigação. Esta aponta que o notário judeu Arnold van den Bergh teria sido o responsável por delatar a família da adolescente alemã de origem judaica, em Amsterdã, em 1944.

Num e-mail enviado nesta segunda-feira (31/01) aos responsáveis pela pesquisa e pela produção do livro, a empresa sugere que a investigação que resultou na obra pode conter falhas. E destaca que eles deveriam ter maior “senso crítico”.

“Aguardamos respostas dos pesquisadores para as perguntas que surgiram e estão atrasando a decisão de imprimir outra edição. Oferecemos nossas sinceras desculpas a qualquer pessoa que possa ter se sentido ofendida pelo livro”, escreveu a empresa, que não divulgou mais detalhes e, questionada, recusou-se a comentar sobre o tema.

A autora do livro, a escritora canadense Rosemary Sullivan, assim como a empresa que editou o livro em inglês, a HarperCollins, com sede em Nova York, também declinaram de comentar o episódio.

Casa onde Anne Frank se escondeu dos nazistas durante a Segunda Guerra fica próxima a um canal de Amsterdã

“Confunde, em vez de desvendar”

Um dos pesquisadores citados no livro, Pieter van Twisk, disse à agência de notícias Reuters que viu o e-mail e que a equipe de que faz parte ficou “completamente surpresa” com a mensagem.

“Tivemos uma reunião na semana passada com os editores e conversamos sobre as críticas e sentimos que poderia haver ‘desvios'. Concordamos que deveríamos apresentar uma resposta detalhada em alguns dias”, disse Twisk.

No fim de janeiro, as informações contidas no livro já haviam sofrido críticas de representantes da Fundação Anne Frank, com sede em Basileia, Suíça, criada pelo pai da adolescente em 1963.

“A obra contribui não para desvendar a verdade, mas sim para confundir e, além disso, está cheia de erros. A prova não é conclusiva. Simplesmente disseminar uma afirmação que depois, para o público, se torna um tipo de fato, beira a teoria da conspiração”, comentou John Goldsmith, presidente da organização, em entrevista ao jornal suíço Blick am Sonntag.

Além de Goldsmith, o historiador Erik Somers, do Instituto para Estudos sobre Guerra, Holocausto e Genocídio, na Holanda, também tem criticado a pesquisa e o livro.

Johannes Houwink ten Cate, professor de estudos sobre o Holocausto e genocídio em Amsterdã, disse ao jornal holandês NRC Handelsblad não haver evidências de que o Conselho Judaico tenha elaborado listas de endereços de esconderijos para judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

“Nunca vi nada disso em 35 anos de pesquisa. Grandes acusações exigem muitas provas, e não há nenhuma”, afirmou, acrescentando que o próprio Van den Bergh esteve escondido durante grande parte de 1944.

Após ser descoberta, Anne Frank foi levada para Auschwitz e depois para Bergen-Belsen, onde morreu em 1945

O processo de investigação

O livro A traição de Anne Frank é resultado de uma investigação que envolveu um agente aposentado do FBI e de 20 a 30 outros profissionais, entre historiadores, criminologistas e especialistas em dados. Eles identificaram o notário judeu Arnold van den Bergh como o principal suspeito de revelar o esconderijo da família de Anne Frank em Amsterdã.

Durante seis anos, os pesquisadores tentaram chegar a alguma conclusão sobre como os nazistas conseguiram encontrar os Frank após eles terem permanecido escondidos por pelo menos dois anos numa área anexa de um armazém, próximo a um canal da capital holandesa.

O livro relata justamente os detalhes da investigação, que não teria sido feita com a intenção de especificamente acusar alguém, mas sim para tentar resolver o mistério histórico de quem entregou a família à Gestapo.

O notário Van den Bergh era membro do Conselho Judaico (órgão administrativo que os nazistas forçaram os judeus a estabelecer para organizar deportações), por isso tinha muitos contatos e foi inicialmente protegido da deportação. No entanto, em 1944 sua proteção foi removida. Por isso, num ato de desespero, ele teria divulgado os esconderijos de várias famílias judaicas, a fim de salvar a própria.

A principal prova é uma cópia de uma carta anônima que Otto Frank, pai da adolescente, recebeu em 1946. Nela, era mencionado o nome do notário. Segundo a equipe de investigação, essa pista era conhecida, mas ainda não havia sido analisada de forma mais aprofundada.

Primeira edição do “Diário de Anne Frank” foi publicada pelo pai em holandês, em 1946

Descoberta, deportação e obra

Anne Frank e outros sete judeus foram descobertos pelos nazistas em 4 de agosto de 1944. Todos foram deportados. Anne morreu no campo de Bergen-Belsen, no estado alemão da Baixa Saxônia, em 1945. Logo após ser detida, no entanto, ela foi levada com o restante da família para Auschwitz, na Polônia.

Apenas o pai de Anne Frank sobreviveu à perseguição nazista. Miep Gies, secretária de Otto Frank, foi quem guardou o diário da adolescente e o repassou ao empresário alemão após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Até morrer, em 1980, Otto Frank se dedicou ao legado da filha e publicou a primeira edição do Diário de Anne Frank em holandês sob o título Het Achterhuis (“A casa dos fundos”), em 1946.

A primeira tradução para o alemão foi publicada em 1950. Dez anos mais tarde, o livro já havia alcançado circulação mundial de mais de 3,5 milhões de cópias.

Diário de Anne Frank, que retrata principalmente o período em que a adolescente permaneceu escondida dos nazistas, foi traduzido para 60 idiomas, sendo, até hoje, um dos livros mais lidos do mundo.

Fonte: DW Internacional

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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