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Putin “vence” eleição com resultado predeterminado

Após pleito previsível que excluiu oposição e não contou com candidatos que desafiassem o regime, líder russo, no poder desde 1999, deve oficializar permanência até 2030, superando recorde do ditador Josef Stálin.

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De maneira previsível, o líder russo Vladimir Putin caminha neste domingo (17/03) para conquistar oficialmente mais um mandato presidencial. No poder desde 1999, Putin, de 71 anos, deve assim oficializar seus planos de permanecer à frente do Kremlin até pelo menos 2030. Caso complete mais esse período, ele se tornará o líder russo mais longevo em 200 anos de história da Rússia, superando até mesmo o ditador soviético Josef Stálin (1924-1953).

De acordo com uma pesquisa boca de urna de um instituto ligado ao regime e resultados parciais da Comissão Eleitoral Central da Rússia, Putin deve exibir uma votação próxima de 88% na eleição presidencial, que ocorreu entre sexta-feira e este domingo. A taxa de comparecimento às urnas teria superado 74% dos eleitores, segundo as autoridades.

O resultado favorável a Putin já era previsto. Restava saber qual seria a porcentagem de votos que o Kremlin pretendia exibir.

Isso ocorreu num pleito que barrou figuras claramente oposicionistas, como o político liberal Boris Nadezhdin, que foi impedido de concorrer pelos tribunais russos, incluindo a Suprema Corte, após recurso. Outras oposicionistas permanecem presos, no exílio ou, como no caso do dissidente Alexei Navalny, sofreram mortes suspeitas. Não havia na prática candidatos que pudessem, de fato, representar um desafio significativo a Putin, cujo regime modificou sucessivas vezes a legislação russa para continuar a concorrer. A imprensa critica ao regime também foi sufocada nos últimos anos.

Apenas candidatos alinhados com o Kremlin ou que aceitaram disputar o pleito sem criticar o regime não tiveram suas candidaturas barradas. Caso confirmado, o resultado desse pleito deve marcar mais um recorde para o regime, superando os 76,7% de votos que Putin exibiu na eleição de 2018.

Pelos números iniciais, os três outros candidatos dóceis ao regime que foram autorizados a participar do pleito não superaram a marca de 5%. O comunista Nikolai Kharitonov aparecia com 4,7%, o liberal Vladislav Davankov, com 3,6% e o ultranacionalista Leonid Sluski, com 2,5%.

O regime ainda tomou medidas para forçar a participação e tentar passar uma imagem de forte apoio popular ao pleito. Nos primeiros dois dias de votação, milhares de funcionários do setor público, estudantes e trabalhadores de empresas estatais foram orientados a votar. A participação foi monitorada – funcionários públicos, por exemplo, foram obrigados a comprovar terem votado, segundo o site Politico. Em algumas regiões, esperava-se até que trouxessem familiares e partilhassem a sua geolocalização com os supervisores. A oposição ainda acusou o governo fazer uso pesado da máquina pública para garantir que a vitória de Putin ocorresse sem surpresas.

A Rússia tem mais de 114 milhões de eleitores inscritos, que também incluem eleitores de quatro territórios ucranianos ocupados e anexados ilegalmente pelo Kremlin.

Após o anúncio dos primeiros resultados pelo regime, Putin disse que sua “vitória” nas eleições permitirá que a Rússia se torne mais forte. “Não importa o quanto eles tentem nos assustar, suprimir nossa vontade, nossa consciência, ninguém jamais teve sucesso na história. Eles falharam agora e falharão no futuro.”

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Soldado ucraniano durante ataque russo. Eleição ocorreu enquanto Kremlin trava guerra de agressão/Foto: Evgeniy Maloletka/AP/dpa/picture alliance

Encenação com propósito

O pleito foi alvo de críticas da oposição no exílio e de países ocidentais. A Alemanha classificou tudo como uma “pseudo-eleição” que “não foi livre nem justa” e criticou a arregimentação de eleitores em territórios ucranianos anexados ilegalmente pela Rússia.

Um porta-voz do governo dos EUA, por sua vez, disse: “as eleições obviamente não são livres nem justas, dada a forma como o Sr. Putin prendeu adversários políticos e impediu que outros concorressem contra ele”. “O ditador russo simulou outra eleição”, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

O político liberal exilado Maxim Reznik descreveu o pleito organizado pelo Kremlin como uma “operação eleitoral especial” – em referência ao eufemismo usado por Putin para descrever sua guerra de agressão contra a Ucrânia –, ou uma “eleição sem eleição”, uma vez que os candidatos nas cédulas eram todos alinhados com o regime.

Não houve a participação de observadores internacionais no pleito. Para especialistas, o pleito atendeu não só a uma vontade do Kremlin em dar um verniz de democracia para o regime, mas também tentar demonstrar que o povo russo não apenas apoia Putin, como suas políticas, incluindo a guerra de agressão contra a Ucrânia. Na prática, o pleito também serviu como um referendo sobre a política externa agressiva do Kremlin.

“Seu objetivo é abordar os desafios internos e externos enfrentados pelo regime de Putin”, disse Konstantin Kalachev, analista político e ex-conselheiro do Kremlin.

“Dentro do país, a eleição serve como meio de legitimação do poder do presidente e demonstra que o povo russo está unido em torno de seu líder”, disse. “E, externamente, serve para mostrar que Putin está implementando a política [externa] com base nas demandas do povo”, ressalta.

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Putin com seu antecessor, Boris Yeltsin, em 2001. Ex-agente da KGB modificou várias vezes a legislação para permanecer no poder/Foto: AFP/Getty Images

Protesto silencioso na Rússia

Com o regime sufocando a oposição, os críticos de Putin acabaram recorrendo a uma modalidade de protesto silencioso na Rússia. Um número considerável de russos compareceu às urnas neste domingo precisamente às 12h como parte da iniciativa “Meio-dia contra Putin”, convocada pela oposição.

A campanha havia sido respaldada pelo dissidente Alexei Navalny antes da sua morte na prisão, em fevereiro. Em 2011, Navalny ganhou notoriedade internacional ao ser preso por convocar protestos contra o regime após uma eleição legislativa que foi alvo de acusações de fraude.

Além de pedir a eleitores insatisfeitos com o regime a marcar presença no horário determinado, os organizadores incentivaram os participantes a executarem outras formas de protesto, como escrever o nome de Navalny nas cédulas ou anulá-las com outras mensagens ou ainda a votar em outro candidato que não Putin. “Foi importante para mim ver o rosto de outras pessoas aqui, para ver que não estou sozinho”, disse um eleitor a jornalista da rede BBC.

A campanha ainda recebeu endosso de Yekaterina Duntsova – que tentou concorrer às eleições presidenciais, mas que também acabou barrada pelo regime em dezembro –, Boris Nadezhdin e a viúva do falecido opositor Navalny, Yulia.

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A viúva de Navalny, Yulia, durante protesto contra Putin em Berlim/Foto: Ebrahim Noroozi/AP/picture

Ainda assim, pelo menos 74 pessoas foram detidas pelo regime neste domingo na Rússia, durante o terceiro dia das eleições presidenciais. As prisões foram efetuadas em 17 cidades do país, incluindo Moscou, informou o portal OVD-Info, um projeto que monitora os direitos dos detidos pela polícia.

Segundo o OVD-Info, um casal foi levado à delegacia por usar um lenço com citações de George Orwell, autor do livro 1984, que descreve um universo distópico e totalitário. Outras 29 pessoas foram detidas em Kazan, capital da república russa do Tartaristão.

Neste domingo, alguns moscovitas também depositaram flores no túmulo de Alexei Navalni. Uma mensagem, escrita num pedaço de papel no local, dizia: “Este é o candidato que queríamos”.

Manifestação em frente a embaixadas

No exterior, as embaixadas da Rússia foram alvo de protestos neste domingo. Em Berlim, cerca de 800 pessoas se reuniram, gritando “Vitória para a Ucrânia” e “Rússia livre”, além de exibirem um boneco inflável de Putin banhado em sangue.

Paralelamente, por volta do meio-dia, cerca de 2.000 russos formaram uma longa fila em frente à embaixada, incluindo a viúva do falecido líder opositor russo Alexei Navalny, Yulia, para apoiar o protesto “Meio-dia contra Putin”. Protestos também foram registrados em frente às representações russas em Praga, Bruxelas, Paris e Londres.

“Vocês me dão esperança de que tudo não seja em vão, de que ainda lutaremos”, disse Yulia em um publicação nas redes sociais na noite de domingo.

jps (DW, Reuters, AFP, EFE, dpa, ots)

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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