O governo dos EUA divulgou na quinta-feira (21) acusações contra o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernandez de participação em uma conspiração de importação de cocaína e crimes relacionados com armas de fogo, e ele foi extraditado para os Estados Unidos.
A acusação não selada pelo Departamento de Justiça dos EUA marcou uma queda impressionante do ex-aliado de Washington que liderou a nação centro-americana de 2014 a janeiro de 2022.
Promotores federais em Manhattan disseram que Hernandez recebeu milhões de dólares de organizações de tráfico de drogas, inclusive do ex-líder do cartel mexicano de Sinaloa, Joaquín “El Chapo” Guzmán, e usou esses fundos para enriquecer e financiar suas campanhas políticas.
Em troca, Hernandez e outras autoridades hondurenhas forneceram aos traficantes de drogas proteção contra investigação e prisão, deram-lhes acesso a informações policiais e militares e impediram sua extradição para os Estados Unidos, segundo uma acusação.
“Hernandez abusou de sua posição como presidente de Honduras de 2014 a 2022 para operar o país como um narcoestado”, disse o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, a repórteres em Washington. “Hernandez trabalhou em estreita colaboração com outros funcionários públicos para proteger os carregamentos de cocaína com destino aos Estados Unidos”.
Hernandez foi um aliado-chave dos Estados Unidos durante os governos Obama e Trump nas operações de imigração e antinarcóticos. Mas os promotores dos EUA revelaram em documentos judiciais no ano passado que Hernandez, de 53 anos, estava sob investigação como parte de uma extensa investigação sobre o sangrento comércio de narcóticos de Honduras.
O presidente Joe Biden se concentrou em combater a corrupção na América Central desde que assumiu o cargo em janeiro de 2021, com o objetivo de conter a onda de migrantes da região para os Estados Unidos.
O irmão mais novo de Hernandez, Tony Hernandez, ex-congressista hondurenho, foi condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos em março de 2021, após uma condenação anterior por acusações de tráfico de drogas.
O ex-presidente negou veementemente as acusações, argumentando que traficantes capturados o difamaram para se vingar de seu governo e reduzir suas sentenças. Mas ele se comprometeu a cooperar com as autoridades e se retratou como um feroz oponente do tráfico de drogas.
Na capital hondurenha, Tegucigalpa, o ex-presidente algemado foi escoltado ao aeroporto por uma falange das forças de segurança. Ao redor do aeroporto, dezenas de pessoas se reuniram agitando a bandeira azul e branca do país para comemorar a extradição de Hernandez.
Hernandez partiu a bordo de um avião da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) na tarde de quinta-feira e deve fazer uma aparição inicial no tribunal federal de Manhattan nos próximos dias.
“Se você transformar o poder do Estado em uma máquina violenta de tráfico de drogas, se você permitir que a violência e o assassinato floresçam nas mãos dos cartéis, então a DEA não vai parar por nada para responsabilizá-lo”, disse Anne Milgram, administradora da DEA, a repórteres. .
A acusação foi apresentada em 27 de janeiro – o dia em que Hernandez foi substituído pela esquerdista Xiomara Castro após sua vitória em novembro sobre Nasry Asfura, a candidata do Partido Nacional de direita de Hernandez -, mas foi mantida em sigilo até quinta-feira.
O Departamento de Justiça dos EUA geralmente se abstém de indiciar chefes de Estado em exercício.
“O novo governo de Honduras quer nossa ajuda”, disse Garland. “Não há conflito entre fazer esse tipo de trabalho e ter bons relacionamentos na América Latina.”
A polícia hondurenha deteve Hernandez em meados de fevereiro após um pedido de extradição dos EUA, de acordo com um documento da Embaixada dos EUA visto pela Reuters na época.
Em março, a Suprema Corte de Honduras autorizou a extradição de Hernandez.
Por Reuters
