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Fashion

Kim Kardashian e o vestido de Marilyn Monroe

Conservadores e historiadores de moda afirmam que uso pode ter causado danos ao vestido histórico

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Na última segunda (02/05), Kim Kardashian entregou um dos grandes momentos de moda da noite do MET Gala, confirmando rumores que já estavam circulando na internet há algum tempo de que iria ao Baile do MET com o icônico vestido usado por Marilyn Monroe em 1962, para cantar “Happy Birthday Mr. President” para o Presidente JFK.

O vestido havia sido feito sob medida para Marilyn Monroe e respondendo às especulações, Kim Kardashian afirmou que teve de emagrecer 7 quilos para caber na peça, que estava exposta no “Museu” Turístico Ripley’s Believe it or Not! Longe de ser um museu de conservadorismo histórico, o Ripley’s está mais para um local turístico que tem uma coletânea de absurdos estilo “Guiness”. O vestido de Marilyn foi adquirido em 2016 pelo Ripley’s, no leilão de Julien, por 4,8 milhões de dólares e é anunciado por eles como “o vestido mais caro do mundo”.

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O VESTIDO JEAN LOUIS, USADO POR MARILYN MONROE EM 1962

O Ripley’s Believe it or Not! chegou inclusive a presentear Kim Kardashian com um fio verdadeiro de cabelo de Marilyn Monroe, item que também estava na possessão da exibição. Segundo o L.A. Times, o uso do vestido histórico por Kim Kardashian foi autorizado pelo Ripley’s a partir de doações de Kim para duas instituições da Florida indicadas pelo museu de atrações.

O momento de Kim Kardashian no MET Gala dividiu opiniões – como já era de se esperar. Boa parte das pessoas acreditavam ser desrespeitoso usar uma peça de Marilyn e ainda mais, uma peça tão importante, que deveria ser conservada. A discussão só se acalorou ainda mais com a falta de planejamento de imprensa da equipe da socialite e discursos cruzados sobre se a peça usada teria sido a verdadeira ou uma réplica, e por quanto tempo Kim Kardashian teria usado a peça verdadeira: apenas para fotos? Apenas para subir as escadas? Ninguém sabe ao certo

Ontem (04/05) o site TMZ revelou um vídeo de Kim Kardashian provando o vestido – a equipe de Kim afirma que todas as provas foram feitas com uma réplica – que foi vestido com dificuldade e que o zíper não se fechava, e era preso apenas com as fitas, de forma a deixar seu glúteo evidente. Esse é provavelmente o motivo pelo qual Kim completou o styling da peça com um casaco nas costas, tampando o glúteo e a abertura no vestido.

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CENAS DO VÍDEO DA PROVA DO VESTIDO POR KIM KARDASHION. REPRODUÇÃO: TMZ

O vídeo deu abertura para uma série de especulações, sobre Kim ter se forçado para caber no vestido e assim, desgastando-o, sobre o zíper possivelmente ter se rompido e uma série de outras coisas. Por agora, enquanto não há confirmações precisas sobre o uso da réplica ou não e o estado do vestido pós-MET, o que resta são especulações.

A crítica dos conservadores têxteis

Diversos especialistas em conservação e museólogos opinaram sobre o assunto, a maioria contra o uso de uma peça histórica “Só a gravidade já pode causar muito dano” afirmou Kevin Jones, curador do Museu FIDM (Fashion Institute of Design & Merchandising ao LA Times. “Sempre que você move, algo está cedendo, mesmo que você não consiga ver. Sob um microscópio, você conseguiria ver todas essas pequenas fissuras. Ao longo do tempo isso seria um grande problema”.

“Estou frustrada porque isso traz um atraso no que é considerado tratamento profissional para figurinos históricos” conta Sarah Scaturro, Chefe de Conservação do Museu de Arte de Cleveland e anteriormente uma das conservadoras do Met. “Nos anos 80, diversos profissionais da moda se uniram para criar uma resolução que figurinos históricos não deveriam ser usados. Então minha preocupação é que outros colegas do ramo de vestimentas históricas sejam pressionados por pessoas importantes a deixá-los usar peças”.

Já Cara Varnell, conservadora independente especializada em vestidos históricos aponta: “Não simplesmente se usa peças históricas de arquivo. Obviamente se você tem um Charles James no armário de sua avó e você quer usá-lo, tudo bem. Mas algo que é um arquivo significa que teve importância cultural o bastante para que isso seja valorizado e conservado. Esse vestido representa algo muito importante – é parte da nossa herança cultural. Estou sem palavras sobre isso.”.

O vestido de Marilyn, batizado de Jean Louis é feito de um material bastante delicado, um tecido chamado souffle, bem flexível e resistente enquanto novo, mas que se torna mais fraco ao longo do tempo, principalmente com as inúmeras aplicações de bordados, que já pesam sobre o fino tecido. Segundo o Ripley’s e a equipe de Kim Kardashian, uma série de medidas de conservação foram tomadas, o tempo todo Kim Kardashian estava acompanhada de seguranças e o vestido foi manuseado apenas com luvas.

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MARILYN MONROE USANDO O VESTIDO JEAN LOUIS EM 1962

Para a professora doutora e diretora do projeto Museologia da Moda, Manon Salles, são várias questões envolvidas nesse episódio. “Em relação a materialidade da peça, foi uma atitude extremamente desnecessária de Kim. Ela já tem muita visibilidade e não precisava usar e colocar uma peça importante como essa em risco de destruir o vestido só para ter mais mais exposição. Mesmo que ela tivesse as mesmas proporções da Marilyn, que ela não tem, não existe a possibilidade de usar uma roupa histórica e que tem toda uma simbologia que pertence à Marilyn Monroe que ela quis se apropriar” afirma Manon. “Acredito sim que a peça foi danificada e desrespeitada, e como uma profissional que trabalha com conservação de acervos de moda no Brasil, acho assustador”.

Supostamente, Kim teve de atender a uma série de exigências (para além de seu peso), para usar o vestido: não usar maquiagem corporal, o vestido não poderia sofrer ajustes ou alterações e só poderia ser utilizado por pouco tempo. Segundo os conservadoristas do Ripley’s, não houve nenhum dano ocorrido ao vestido. Mas outros especialistas afirmam que mesmo com muito cuidado, o oxigênio, suor e sol já poderiam ter danificado a peça. Ainda segundo a reportagem do L.A. Times, o vestido voltou para os cofres de conservação do Ripleys, com umidade e temperatura controlados, na quarta-feira (04/05), em jatinho privado de Kim Kardashian.

Enquanto a conversa permanece especulativa sem afirmações concretas sobre o uso da réplica ou não e sobre os possíveis danos causados ao vestido, uma coisa é certa. Um artefato histórico como o vestido Jean Louis de Marilyn Monroe, não deveria estar em um “museu de atrações” particular como o Ripley’s, sob o acervo pessoal dos donos do grupo, mas sim sob posse de instituições de conservação e verdadeiros museus, como, porquê não, o Metropolitan Museum. Afinal, se a possibilidade de dano era tão alta sobre o vestido, uma instituição realmente comprometida com a conservação de um artefato histórico, não deixaria que Kim Kardashian – ou qualquer outra pessoa – se vestisse com a peça original.

Por Uol

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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