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Artigos

Sobre a brevidade da vida e a preciosidade do tempo

"O que, então, é capaz de nos oferecer uma orientação? Somente a filosofia." Marco Aurélio

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Para alguns, a vida é curta; para outros, é longa; outrossim, não têm uma opinião a respeito, mas isso pouco importa, ao contrário do que muitos pensam, não é preciso ter opinião para tudo e está tudo bem não a ter. O que realmente deveria importar é o fato de aproveitar a vida sabiamente para que quando cheguemos ao seu fim, tenhamos a satisfação de tê-la realmente vivido e não nos lamentarmos por ter deixado de lado aquilo que realmente era essencial. Grande parte das pessoas compartilha da queixa de Aristóteles, citada por Sêneca em seu livro Sobre a brevidade da vida, a saber: Por isso a queixa de Aristóteles, pouco conveniente a um homem sábio, quando criticou a natureza: “ela concedeu aos animais tanto tempo que podem durar cinco ou dez gerações, mas ao homem, nascido para grandes e muitas realizações, ela estabeleceu um limite muito mais breve”. Tal citação aponta a insatisfação de Aristóteles em relação ao período de duração da existência de um ser humano.

A maioria das pessoas passam alheias ao tempo, sem dar-lhe a devida atenção. Negligenciando-o com preocupações tolas.  Consoante Sêneca, na mesma obra, não temos pouco tempo, mas desperdiçamos muito. A vida é longa o suficiente e nos foi dada generosamente para a realização das mais altas empreitadas, se toda ela for bem empregada; mas quando se dissipa no luxo e na negligência, quando se gasta em nada de bom, só então, constrangidos pelo fim inescapável, sentíamos que passou enquanto não percebíamos que passava. Destarte, Lúcio Aneu Sêneca, um dos mais reconhecidos intelectuais do Império Romano, aponta que, normalmente, damo-nos conta de que a vida passou, apenas no momento em que a morte nos acena. Aí, então, sentimo-nos culpados que pela vida que não vivemos, implorando por mais tempo, como se fosse possível corrigir algo ou viver sabiamente a partir de então.

Torpes são aqueles que têm a audácia de afirmar, com desdém: Hoje só estou matando tempo, mal sabem eles que é exatamente o oposto. Na verdade, é o tempo que o mata. Assim, quando você desperdiça esse bem tão precioso dormindo horas intermináveis, assistindo televisão o fim de semana todo inconscientemente ou simplesmente deitado matando o tempo, assim como carregando mágoas, deixando de realizar algo por receio do que terceiros possam dizer ou se preocupando com mesquinharias… deveria pensar melhor, pois tempo jogado na latrina, não volta jamais. Portanto, nunca, em sua vida futura, você poderá usufruir daqueles momentos em que viveu alienado, como se sua vida fosse permanente, não passageira. Sêneca diz que são sovinas quando se trata de gastar patrimônio, ao passo que, com relação a gastar tempo, são perdularíssimos com a única coisa em que é justo ser avarento.

Impressionantemente, com frequência, afirmam que quando se aposentarem, quando tiverem dinheiro, quando tiverem tempo… fazem-no como se tivessem alguma certeza de que lá chegarão. Quem garante que a vida será generosa concedendo-lhes tanto tempo futuro? Porém, mesmo assim, o fazem. Como é estúpido esse esquecimento da mortalidade e deixar os melhores planos para os cinquenta e sessenta anos e ainda querer começar a vida em um ponto ao qual poucos chegaram, afirma Sêneca. A vida urge, à vista disso, não percamos tempo planejando uma vida tão longa como se soubéssemos que ela assim será. Faça hoje o que tem que ser feito, Carpe Diem é a expressão que você deve internalizar em sua mente. Vocês temem tudo sendo mortais, e desejam tudo como se fossem imortais, diz Sêneca.

É necessário que aprendamos a viver todos os momentos de nossas vidas, fazendo-o ao longo de nossos dias, sem exceção. Aquele domingo que você diz que odeia, é um dia da sua vida que não voltará, mesmo assim você tem a coragem insana de proferir seu ódio por ele? A segunda-feira, a qual você profana e diz que, se pudesse, aboliria de sua vida; então a terça-feira passaria a ser a sua segunda e assim consecutivamente. No fim das contas, você abreviaria todos os seus dias? É claro que não, apenas fala isso, pois é um alienado audacioso. Sêneca afirma brilhantemente que ninguém lhe restituirá os anos, ninguém lhe devolverá de volta a si mesmo. Uma vez começada, a vida segue sem reverter ou restringir seu curso; não fará tumulto e avisará sobre sua velocidade. Ela se moverá silenciosamente; não se alastrará mais longamente nem pela ordem de um rei nem pela vontade do povo.

Sábia é aquela pessoa que procura aproveitar cada dia se sua existência, buscando diariamente extrair a sua essência. Não tolera desperdiçar seu tempo com futilidades, muitos menos vícios. Sabe que seus dias são finitos, portanto faz de cada um deles, uma pequena vida consciente de seu fim. Sêneca diz que é próprio de homem magnânimo e acima dos erros humanos não permitir que seja retirado nenhum momento de seu tempo, e por isso a vida dele é longuíssima, porque, por toda a extensão que tenha durado, tomou tudo para si. Nada, assim, ficou descuidado e ocioso, nada na dependência de outro, e nem, certamente, encontrou algo digno de ser trocado pelo seu tempo, guardião parcimoniosíssimo dele.

O amanhã é incerto para todos, porém vivemos como se isso fosse algo sobre o nosso domínio ou tantos outros vivem presos ao passado, não se concentram no presente que é o que realmente temos em mãos. Sêneca diz que a vida se divide em três momentos: o que foi, o que é, e o que será. Destes, o qual estamos vivendo é breve, o que vamos viver é dúbio, o que vivemos é certo. Curioso é o comportamento daqueles que pensam que uma vida vazia se dá pelo fato de estarmos ocupados demais, doutra forma, igualmente o são, aqueles que acreditam que uma vida vazia, com muito tempo disponível, é fartura de tempo. O que um não pode se permitir, na verdade, é estar atarefado exageradamente a ponto de não ver os dias se passarem, tampouco, ocioso demais, a ponto de esperar ansiosamente por algum compromisso marcado nos dias vindouros e se esquecer dos dias que o conduzirão até lá.

É fundamental que estejamos atentos ao tempo que passamos aturdidos com a morte. É tolice preocupar-se com aquilo que não podemos evitar. Para tanto, até que chegue o dia que ela nos encontre, devemos curtir nossas vidas de forma racional e proveitosa. Afinal, Sêneca conclui que a vida do sábio é bastante extensa, o fim não é o mesmo para ele e para os demais. Só ele está livre das leis do gênero humano; todos os séculos servem-no com um deus. Transcorreu algum tempo? Ele o guarda em recordação. Acontece agora? Ele o usa. Há de acontecer? Ele o antecipa. A reunião de todos os tempos em um único torna a vida longa. Hajamos mais corajosamente para desfrutarmos conscientemente daquilo que nos é mais valioso em nossa existência: o tempo.

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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