Polícia Federal (PF) prendeu suspeitos de planejar ataques no Brasil ligados ao Hezbollah
A Polícia Federal (PF) anunciou que prendeu em São Paulo na quarta-feira (8/11) duas pessoas que teriam ligações com o grupo libanês Hezbollah. Os detidos estavam sob suspeita de planejar “atos extremistas” contra a comunidade judaica no Brasil a mando do Hezbollah, grupo radical islâmico financiado pelo Irã e que tem lançado ataques contra Israel a partir do Líbano desde a eclosão da guerra na Faixa de Gaza.
Os nomes dos homens foram mantidos em sigilo, mas, segundo a TV Globo, eles teriam feito viagens recentes a Beirute, capital do Líbano.
Além das prisões, a PF cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal. Segundo a corporação, a operação visa “interromper atos preparatórios de terrorismo e obter provas de possível recrutamento de brasileiros para a prática de atos extremistas no país”.
Há ainda outros dois mandados de prisão expedidos contra descendentes de libaneses que estão no Líbano, ainda segundo a TV Globo. Os nomes deles foram incluídos em uma lista da Interpol.
Pela legislação, os recrutadores e os recrutados devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terroristas e de realizar atos preparatórios de terrorismo, cujas penas máximas, se somadas, chegam a 15 anos e 6 meses de reclusão.
Os crimes previstos na Lei de Terrorismo são equiparados a hediondos, considerados inafiançáveis, insuscetíveis de graça, anistia ou indulto, e o cumprimento da pena para esses crimes se dá inicialmente em regime fechado, independentemente de trânsito em julgado da condenação.
Apreensões anteriores pela Polícia Federal
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a PF prendeu em 2018 um comerciante libanês acusado pelo governo americano de usar empresas de importação e exportação de eletrônicos na região da Tríplice Fronteira (Brasil, Colômbia e Peru) para enviar dinheiro ao Hisbolá no Líbano e na Síria.
Assad Ahmad Barakat, de 51 anos, já havia sido preso no Brasil em 2002 e extraditado para o Paraguai no ano seguinte, onde foi condenado pela Justiça, cumprindo pena de reclusão até 2008. Em entrevista ao jornal em 2002, o empresário disse que havia “uma grande ignorância no Ocidente” sobre o grupo.
Conheça o Hezbollah
As origens precisas do Hezbollah são difíceis de rastrear, mas seus precursores surgiram depois de Israel ter invadido uma parte do sul do Líbano em 1982, em resposta a uma série de ataques de militantes palestinos contra Israel, nomeadamente a tentativa de assassinato do embaixador israelense no Reino Unido.
Ariel Sharon, que era então Ministro da Defesa de Israel, visou expurgar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do Líbano e impedir as incursões do grupo através da sua fronteira.
Alguns líderes xiitas no Líbano queriam uma resposta militante à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e organizacional da Guarda Revolucionária do Irã (divisão das forças armadas do Irã, fundada depois da Revolução Iraniana) e foi denominado Amal Islâmico.
Pouco depois, essa organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
O Hezbollah anunciou oficialmente a sua criação em 1985, publicando uma “carta aberta” que identificava os Estados Unidos e a antiga União Soviética (URSS) como os principais inimigos do Islã.
No polêmico manifesto, o Hezbollah também levantou a destruição de Israel como um objetivo fundamental.
“É o inimigo odiado que temos de combater até que os odiados consigam o que merecem. Este inimigo é o maior perigo para as nossas gerações futuras e para o destino das nossas terras, especialmente porque glorifica as ideias de colonização e expansão, iniciadas na Palestina.“, diz o texto
Desde 1992, o Hezbollah é liderado por Hassan Nasrallah e tornou-se a força militar mais poderosa da nação árabe.
No mesmo ano, o grupo participou pela primeira vez nas eleições nacionais, obtendo mais assentos do que qualquer partido.
O grupo ganhou gradualmente influência no sistema político do Líbano e tem poder de veto no Executivo do país.
O Hezbollah é considerado por alguns libaneses como uma ameaça à estabilidade do país, mas continua popular entre a comunidade xiita libanesa que representa.
Apesar de o Hezbollah defender uma corrente do Islã diferente da do Hamas, sendo o primeiro xiita e o segundo, sunita, os dois grupos convergem quanto ao desejo de destruir Israel.
Tanto o Hamas quanto o Hezbollah são considerados organizações terroristas pelos governos do Reino Unido, dos EUA e de outros países.
O Hezbollah possui um vasto arsenal de armas que inclui mísseis guiados com precisão que podem afetar intensamente o território israelense e dezenas de milhares de combatentes bem treinados e experientes em batalha.
Muitos no Líbano ainda se lembram da guerra devastadora que o Hezbollah travou contra Israel, que durou um mês, em 2006, e temem que o grupo possa arrastar o país para outro conflito.
Desde o ataque do Hamas a Israel, o Hezbollah intensificou seus ataques a Israel, que está retaliando essas ações.
Mas ambos os lados aparentemente tomaram medidas para evitar uma escalada perigosa e a maioria dos ataques se limitou à zona fronteiriça.
Nasrallah disse recentemente que os últimos ataques do Hamas em Israel foram “corretos, sábios e justos”, mas os descreveu como “100% palestinos”.
Ainda no discurso, feito em um local secreto e transmitido para milhares de pessoas na capital do Líbano, ele criticou os Estados Unidos, dizendo que o país era o responsável pelo conflito em Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu uma resposta de magnitude “inimaginável” se o Hezbollah abrir uma segunda frente no conflito.