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É necessário cuidar-se com zelo para com zelo cuidar dos nossos idosos

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Certa vez internei minha avó com um AVC severo num hospital público da cidade de Erechim. No mesmo quarto, já havia uma senhorinha de 93 anos, sem a menor reação para nada, os olhos quando abertos estavam fixos num vazio só seu, particular. Essa senhora era cuidada pelas netas que faziam revezamento, pois suas mães também tinham idade avançada e não tinham saúde para passarem as noites ao pé da cama.

Assim que minha vó foi acomodada na cama, também com pouca reação, apenas gemidos, eu me acomodei na cadeira ao lado para aguentar a noite. Sentei e me dei o direito de chorar, chorar muito.

A neta cuidadora da vozinha ao lado, ouviu meu choro, ainda que baixinho. Começou a conversar comigo na tentativa de me tirar daquele estado de desespero, talvez, fazendo perguntas sobre meu nome, onde morava, o que havia acontecido e coisa e tal. Eu não estava a fim de conversa, queria viver a minha dor de impotência diante do sofrimento de minha avó, mas para não ser indelicada fui respondendo.

“- Você não deve entrar em desespero, chore apenas o suficiente para se aliviar e depois fique inteira, porque a doente aqui é sua avó, ela precisa de você saudável, não pela metade.” Esta fala, a mulher me falou de modo bem firme, como se me conhecesse da vida inteira e depois de eu responder ao seu interrogatório.

“- Veja minha avó, tem 93 anos e há alguns meses está acamada e praticamente sem reação. Ela viveu a vida dela e se construiu de tal forma que desembocou neste final. Eu não devo julgá-la por que está assim ou assado, nem sofrer por ela. Eu não vou chorar por ela. Eu fico triste, é diferente. Não quero que ela sofra, que sinta dor. Ela precisa de mim inteira, para que eu possa oferecer-lhe o cuidado suficiente para que fique confortável, sem dor ou se for inevitável, que seja o menos possível. Ela tem direito de terminar seus dias com dignidade, com cuidados adequados e é isso que faço. Cuido os remédios, a comida, o banho, as feridas, virar de lado para não cansar, trocar as fraldas, orar para ela segurando sua mão. E agora que estamos aqui, auxilio as enfermeiras a fazerem tudo isso. Porque ela precisa que seja assim e eu inteira, saudável. Faça o mesmo. Com certeza tua avó precisa de ti”.

Eu já estava incomodada com tanta pergunta, fiquei mais ainda com a frieza com que me falou tudo isso. Aliviou um pouco porque ela insistiu em me ensinar a respirar tão profundamente que acalmou até a minha indignação com ela.

Durante muito tempo aquela fala me indignou, mas o tempo passa e a gente vai aprendendo. Ainda bem! Hoje eu entendo que ela estava coberta de razão em tudo que falou. As pessoas constroem seu final de acordo com seu jeito de ver e viver o mundo que escolheram para si e não devemos nos deixar arrastar em sofrimento junto. Temos que estar dispostos, prontos para ajudar na qualidade de vida que o doente precisa para se recompor ou em última instância, proporcionar dignidade, sem sofrimento até o desenlace.

Fácil isso? Nada fácil. Somos humanos, envolvidos com nosso ente, logo, vivenciar a sua dor é inevitável! Mas faz-se necessário não morrer junto, manter-se íntegro no corpo e no espírito para melhor cuidar de quem precisa de nossa ajuda.

Também nós estamos construindo nosso final. Como está a minha construção? Penso nisso todos os dias e me policio no que tange às coisas saudáveis que devo praticar. E a sua construção? Já parou para pensar? Também construímos o modo como queremos ser cuidados quando chegar a nossa vez, dando exemplo de nossos tratos com os que dependem de nós.

Exemplo fala muito alto e muito forte!

Texto de inteira responsabilidade de Angela Trierveiler

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