A sonda Luna-25, a primeira missão lunar da Rússia em quase 50 anos, caiu no satélite natural da Terra (Lua) após um incidente não especificado durante manobras de pré-pouso, informou a agência espacial russa Roscosmos neste domingo (20).
O acidente ocorre quase um ano e meio após a ofensiva russa na Ucrânia, que viu Moscou isolada, com sanções punitivas que afetaram sua indústria espacial.
A missão fracassada ocorre no momento em que várias empresas e nações entraram em uma corrida à Lua e colocaram um holofote nos problemas do setor espacial russo – da corrupção à falta de inovação e parcerias.
Com a Luna-25, Moscou esperava construir o legado de seu programa Luna da era soviética, marcando um retorno à exploração independente da Lua diante de problemas financeiros e escândalos de corrupção no programa e crescente isolamento do Ocidente.
Valery Yegorov, ex-pesquisador do programa espacial russo que agora vive no exílio, disse que o acidente afetaria severamente as futuras missões da Roscosmos, com a próxima não planejada até 2028 ou “mesmo mais tarde”.
Ele sugeriu que o fracasso da investigação estava ligado a problemas eletrônicos, possivelmente resultantes de sanções ocidentais a Moscou.
O lançamento da Luna-25 foi adiado várias vezes nos últimos cinco anos, disse Yegorov, “por causa das sanções impostas à Rússia em resposta à tomada da Crimeia”.
A Rússia não tenta pousar em um corpo celeste desde 1989, quando a sonda Fobos 2 da União Soviética para explorar as luas de Marte falhou após um mau funcionamento do computador de bordo.
O chefe da Roscosmos, Yuri Borisov, havia dito que o empreendimento seria “arriscado”, dizendo ao presidente Vladimir Putin em junho que a probabilidade de sucesso era de “cerca de 70%”.
A Luna-25 havia sido colocada com sucesso na órbita da Lua na quarta-feira, depois de ser lançada do cosmódromo de Vostochny, no Extremo Oriente russo.
O que diz o comunicado oficial
Conforme o comunicado no Telegram, a comunicação com a Luna-25 foi perdida às 2h57 (1157 GMT) de sábado. De acordo com descobertas preliminares, o módulo de pouso deixou de existir após uma colisão com a superfície da Lua. As medidas tomadas em 19 e 20 de agosto para localizar a nave e fazer contato com ela não foram bem-sucedidas.
Segundo o órgão, uma investigação ministerial será aberta para apurar as causas do acidente, sem dar qualquer indicação de quais problemas técnicos podem ter ocorrido.
Confira o comunicado traduzido na integra:
Corporação estatal Roscosmos
“Em 19 de agosto, de acordo com o programa de voo da espaçonave Luna-25, foi planejado emitir um impulso para formar sua órbita elíptica pré-pouso.
Por volta das 14h57, horário de Moscou, a comunicação com a espaçonave Luna-25 foi interrompida.
As medidas implementadas nos dias 19 e 20 de agosto para procurar o dispositivo e entrar em comunicação com ele não deram resultados.
De acordo com os resultados da análise preliminar, devido ao desvio dos parâmetros de impulso reais dos calculados, o dispositivo mudou para uma órbita não calculada e deixou de existir como resultado de uma colisão com a superfície da Lua.
As questões de esclarecimento das razões da perda da “Luna 25” serão tratadas por uma comissão interdepartamental especialmente formada.
Corrida espacial
Mas no sábado, a Roscosmos disse que uma “emergência” foi detectada durante uma manobra pela sonda antes de seu pouso, impedindo que a operação fosse realizada.
Esperava-se que a Luna-25 permanecesse na Lua por um ano, coletando amostras de solo e procurando água – um ingrediente que os entusiastas esperam que possa ser usado para fazer combustível de foguete para futuros lançamentos e apoiar possíveis colônias que vivem lá.
Câmeras instaladas no módulo de pouso já haviam tirado fotos da superfície lunar.
Já haviam surgido dúvidas sobre a longa cooperação espacial da Rússia com o Ocidente após sua campanha militar na Ucrânia.
Embora a Rússia tenha dito que pretende usar a Estação Espacial Internacional até 2028, a Agência Espacial Europeia (ESA) abandonou os planos de cooperar com Moscou em missões à Lua e a Marte.
Moscou pousou pela última vez uma sonda – Luna-24 – na Lua em 1976, antes de se afastar da exploração lunar em favor de missões a Vênus e construir a estação espacial Mir.
O pouso bem-sucedido da Luna-25 teria aberto caminho para novas missões russas à Lua, em um momento em que Índia e China estão lançando suas próprias sondas e os Estados Unidos retornam às missões tripuladas.
A sonda espacial concorrente da Índia, Chandrayaan-3, entrou na órbita da Lua no início de agosto, também com o objetivo de pousar no polo sul.
Apenas Rússia, Estados Unidos e China já conseguiram um pouso controlado na Lua.
Fonte: AFP, CNN
