Por que a Rússia foi à guerra? Uma visão Ocidental divergente
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Quando uma guerra acontece, há, geralmente, várias razões pelas quais os dois lados beligerantes a iniciam e a mantém. Contudo, normalmente, a decisão de fazer uma guerra é de um lado; um ataca e o outro se defende. Além disso, existem várias opiniões apontando os motivos, em sua maioria, contra aquele país que ataca. No caso da Rússia e Ucrânia, a situação não é diferente e especialistas pipocam de todos os lados procurando entender e explicar ao público leigo os acontecimentos nesta guerra no Leste Europeu.
Praticamente uníssonos, principalmente no lado ocidental do globo, estes especialistas culpam a Rússia e Putin por invadir a Ucrânia, querer tomar parte do seu território e instalar um governo fantoche pró-Rússia em Kiev. Todavia, uma voz destoa e atribui, basicamente, a culpa desta guerra ao Ocidente, espacialmente, aos Estados Unidos.
John J. Mearshiemer, professor de ciência política da Universidade de Chicago, acredita, veementemente, que o principal responsável pelo atual estado beligerante entre Rússia e Ucrânia, são os Estados Unidos. Em um artigo publicado na Revista Foreign Affairs na edição de setembro/outubro de 2014, intitulado Why the Ukraine Crisis Is the West’s Fault, em português Por que a crise na Ucrânia é culpa do Ocidente, o professor explica as razões de sua afirmação.
Segundo o professor, existem 3 razões cernes pelas quais a guerra veio à tona “a raiz do problema é a ampliação da OTAN, o elemento central de uma estratégia maior para tirar a Ucrânia da órbita da Rússia e integrá-la ao Ocidente. Ao mesmo tempo, a expansão da União Europeia para o leste e o apoio do Ocidente ao movimento pró-democracia na Ucrânia – começando com a Revolução Laranja em 2004 – também foram elementos críticos. ”
Ao longo do seu artigo, o professor destrincha as três razões por meio de argumentos nos quais se baseia para suplanta-las. Segundo ele, desde a metade de década de 90, líderes russos se opuseram firmemente ao alargamento da OTAN e nos últimos anos, eles deixaram claro que não ficariam parados enquanto seu vizinho estrategicamente importante se transformasse em um bastião ocidental.
Vladimir Putin tachou a queda de Viktor Fedorovych Yanukovych, então presidente pró-Rússia da Ucrânia, de golpe de Estado. Ele respondeu tomando a Crimeia, uma península que ele temia que abrigaria uma base naval da Otan, e trabalhando para desestabilizar a Ucrânia até que ela abandonasse seus esforços para se juntar ao Ocidente, afirma o professor.
A reação de Putin não deveria ter sido uma surpresa. Afinal, o Ocidente estava se mudando para o quintal da Rússia e ameaçando seus principais interesses estratégicos, um ponto que Putin fez enfaticamente e repetidamente.
A expansão recente da OTAN
Ainda na metade da década de 90, o então presidente americano, Bill Clinton, iniciou um movimento de expansão da OTAN. Em 1999, na primeira rodada, República Tcheca, Hungria e Polônia se juntaram à aliança militar; na segunda rodada, em 2004, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia, entraram no grupo.
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Moscou reclamou amargamente desde o início. Durante a campanha de bombardeios da OTAN em 1995 contra os sérvios bósnios, por exemplo, o presidente russo Boris Yeltsin disse: “Este é o primeiro sinal do que pode acontecer quando a OTAN chegar às fronteiras da Federação Russa. A chama da guerra pode explodir em toda a Europa. ”
Mesmo a contragosto da Rússia, a OTAN continuou a busca por mais parceiros e em 2008, em um encontro em Bucareste, capital da Romênia, a aliança considerou abrir as portas para a Ucrânia e Geórgia, o que foi apoiado pelo então presidente americano Geroge W. Bush, mas a iniciativa foi confrontada pela França e Alemanha, pois elas tinham receio de retaliações russas. No fim das contas, não foi assinado um processo formal de adesão dos supracitados países, mas um termo confirmando as suas aspirações.
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Alexander Grushko, então vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, disse: “A adesão da Geórgia e da Ucrânia à aliança é um grande erro estratégico que teria consequências muito sérias para a segurança pan-europeia. ” Putin sustentou que admitir esses dois países na OTAN representaria uma “ameaça direta” à Rússia. Um jornal russo informou que Putin, ao falar com Bush, “deu a entender de forma muito transparente que se a Ucrânia fosse aceita na OTAN, ela deixaria de existir”, afirma o artigo.
Neste meio tempo, Moscou lutou para enfraquecer a Geórgia tomando o controle de Abecásia e Ossétia do Sul, duas regiões separatistas dentro do país, e reconhecendo-as como independentes e apoiando os separatistas. Muitos dizem que isso foi um recado de Putin para a OTAN manter-se fora da região, mas que a aliança não o escutou. Em 2009, a Albânia e Croácia se tornaram membros da OTAN.
A União Europeia também continuou em direção ao Leste Europeu. Em 2008, ela laçou uma parceria para fomentar a prosperidade em países como a Ucrânia e integra-los ao bloco. Mais uma vez, o professor afirma que isso era uma afronta à Rússia. Não é de se surpreender que os líderes russos considerem o plano hostil aos interesses de seu país. Em fevereiro passado, antes de Yanukovych ser destituído do cargo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, acusou a UE de tentar criar uma “esfera de influência” na Europa Oriental. Aos olhos dos líderes russos, a expansão da UE é um pretexto para a expansão da OTAN.
John J. Mearshiemer afirma que a cartada final para influenciar Kiev foi promover esforços para semear valores ocidentais e promover a democracia na Ucrânia e outras ex-repúblicas da URSS. Victoria Nuland, secretária de Estado adjunta dos EUA para assuntos europeus e euroasiáticos, estimou em dezembro de 2013 que os Estados Unidos investiram mais de US$ 5 bilhões desde 1991 para ajudar a Ucrânia a alcançar “o futuro que merece”.
Em setembro de 2013, Gershman escreveu no The Washington Post: “A escolha da Ucrânia de se juntar à Europa acelerará a fim da ideologia do imperialismo russo que Putin representa. ” Ele acrescentou: “Os russos também enfrentam uma escolha, e Putin pode se encontrar no lado perdedor não apenas no exterior, mas dentro da própria Rússia”.
No fim das contas, podemos perceber a forte crítica do professor ao Ocidente, especialmente aos Estados Unidos. Nós, como críticos, buscamos olhar os dois lados da história para entender e mostrar que não existe santo neste jogo e que sim, os Estados Unidos, têm grande culpa pela guerra infeliz que se abate sobre a Ucrânia. Com suas visões democráticas e pacíficas, os EUA estão sempre a dar pitaco nos assuntos internos de outros países da maneira que julgarem correta, mas que nem sempre pode ser o que os outros consideram como correta. No próximo texto, explicaremos aqui, mais detalhadamente, como a crise toda foi criada pelo Ocidente, o diagnóstico e a saída de Rússia e da Ucrânia que resultou na guerra atual, segundo a visão de John J. Mearshiemer.
NÃO À GUERRA!
Por Cássio FT Rogalski