Trago em mim cicatrizes de três partos… cicatrizes de mulheres que pariram antes de mim, partos de luz, partos de dor, partos de vida, partos de morte!
Em mim são sinais de uma barriga que abrigou sonhos, que preparou vidas, que perdeu vida!
Em mim são sinais de seios que alimentaram bocas sedentas de viver!
Trago em mim calosidade nas mãos… calosidades de mães, de avós, de bugras trançadeiras de balaios, trançadeiras de um mundo de mulheres fortes, forjadas num mundo rude!
Em mim são sinais de uma batalha mais leve, as mulheres que vieram antes, deixaram mais suave a minha lida!
Trago em mim os pés rachados… rachos de verter o sangue, de cingir o branco da geada, de doer a alma, dor entranhada pelo racho dos pés! Pés das mulheres da minha gente que se compuseram de caminhadas dolorosas sem um pedaço de couro pra lhe calçar a planta do pé!
Em mim os minúsculos rachos são nada perto do que sofreram as bugras que me compõem!
Trago em mim a luta diária da sobrevivência…a fadiga da luta e o descanso de batalhas!
Trago em mim a alegria e o choro de mulheres que se fizeram felizes por nada e por tudo e que sendo assim se fizeram mulheres de fibra e de cicatrizes!
Por Angela Dias
