Controle a sua mente e grande parte dos problemas desaparecerá – Parte II

Continuando a nossa saga pelo livro A Quietude é a Chave, de Ryan Holiday, hoje seguimos com a segunda parte do livro, a qual fala sobre o Espírito. No texto anterior, falamos sobre a Mente e o quanto essencial é dominá-la, visto que uma mente sob controle é capaz de evitar grande parte dos problemas de nosso quotidiano e antecipar-se aos eventos, tornando-se assim, quase que inabalável.

Espírito

“A maioria de nós ficaria aterrorizada caso o próprio corpo se tornasse insensível e não mediria esforços para evitar tal condição; no entanto, não nos preocupamos com a insensibilidade da alma. ” Epiteto

No mundo em que vivemos, as aparências, normalmente, são o que importam, mesmo que possam ser desmascaradas. Quando falamos de situações que evocam tensão e nervosismo, que para muitos, certamente, evolui para descontrole por meio de brigas, xingamentos, choro… é importante manter a aparência exterior demonstrando tranquilidade da alma, a qual, por dentro, está mergulhada em uma tempestade. Como disse o monge Thich Nhat Hanh, na superfície do oceano há quietude, mas por baixo há correntes. Mantenha as correntes dentro de você e esteja envolto, externamente, em quietude. Evite mostrar descontrole, isso o deixará vulnerável e o fará parecer um tolo. Se o descontrole for necessário, que seja dentro de quatro paredes diante de um espelho.

Se você estiver concentrado em alguma atividade e alguém que está por perto, tenta distraí-lo, por meio de perturbações, você não deve dar-lhe atenção. Ao invés, mantenha-se calmo. Se toda a vez que alguém tenta importuná-lo, você parar o que está fazendo para dar-lhe atenção, você nunca vai terminar o seu ofício, ou se o fizer, provavelmente levará muito mais tempo sem finalizá-lo com maestria. Não atire pedras em todos os cães que passam em seu caminho, isso vai atrasar você do seu objetivo final. Holiday diz que as aparências são a única coisa que importa. Faça o que for necessário para vencer, só não deixe ninguém descobrir. Logicamente que fazer o necessário para vencer, não lhe dá o direito de prejudicar alguém, isso é indiscutível.

A inquietude traz a perturbação do Espírito. Uma pessoa que está sempre buscando mais e mais, de forma gananciosa, passando por cima de tudo e de todos, não possui um espírito pacífico. Ela vive atormentada pelo desejo insaciável de posse e esquece de desfrutar daquilo que já possui. Sua mente está sempre no futuro, pensando naquilo que não tem e como o obterá, vive ansiosa, pois só quem está com a mente no presente é que realmente está em paz. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma, perguntou Jesus aos discípulos.

Um ser humano que não olha para dentro de si, não examina sua alma com certa frequência, não consegue perceber o que lhe é essencial para uma vida plena. É necessário um coração e mente abertos e olharmos para o nosso interior em primeiro lugar. A inquietude da alma é uma perturbação constante à mente humana. Holiday afirma que não podemos estar em harmonia com nada, nem ninguém, se a necessidade de ter mais, mais e mais estiver corroendo nossas entranhas como um verme.  Qual a necessidade disso se você nem sabe se estará vivo amanhã?! Faça como o imperador Marco Aurelio e pergunte-se O que estou fazendo com a minha alma?

Mantenha seus desejos sob controle, pois a cobiça destrói a paz da alma. Deseje, mas com moderação e somente aquilo de que poderá usufruir. Uma pessoa que necessita satisfazer seus desejos frequentemente é escrava deles, não é uma pessoa livre. Holiday sugere o seguinte exercício para quando você estiver atraído por um forte desejo de algo, pergunte-se: O que acontecerá comigo se eu conseguir o que quero? Como me sentirei depois? Ele afirma que a maioria dos desejos são de fato emoções irracionais e é por isso que a quietude nos exige uma pausa para avaliá-los.

Escolha a Virtude. Sêneca costumava dizer que ela é o julgamento correto e inabalável. Holiday afirma que a virtude dá origem às boas decisões, à felicidade e à paz. Ela irradia a alma e guia tanto a mente quanto o corpo. A virtude se relaciona com a paciência, força e coragem e propicia a integridade da mente. Para Aristóteles, ela consiste na justa medida, longe dos dois extremos. Por fim, de acordo com Platão, cada segmento da alma deve atuar de acordo com a virtude que lhe corresponde. Desta forma, a ação do homem é determinada. De certa forma, a Virtude é o equilíbrio necessário à vida.

Freud dizia que todos nós exigimos reparação pelas feridas antigas a nosso narcisismo, ou seja, acreditamos que temos o direito de sermos recompensados pelos nossos traumas de infância. Isso é inverídico, na minha opinião, pois nós temos a obrigação de nos curarmos deles e não receber piedade. Holiday sugere que curemos a criança interior. Uma das frases mais poderosas e também uma das minhas preferidas foi dita pelo filósofo e escritor francês, Jean-Paul Sartre: Não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz com o que a vida fez de você. Ele sugere que você dê a volta por cima e cure a sua alma e pare de se fazer de vítima injustiçada pelo mundo, pela vida que tem e pela vida que teve.

Por fim, sugiro-lhe que aprecie o que você tem em sua vida e deseje aquilo que lhe é necessário. Não há quietude para a pessoa que não consegue desfrutar do que já possui. A ânsia por mais e mais funciona como um Hidra, satisfaça um desejo e dois novos surgirão, diz Holiday.  Lao Tsé disse que quando você se dá conta de que nada está faltando, o mudo inteiro lhe pertence. Desejos intensos acabam com a sua paz e afastam a quietude de sua alma. Esteja atento a isso. Não viva perturbado por aquilo que você não possui. O sossego de sua alma é impagável.  

Lembre-se de que A Quietude é a Chave!