Terms & Conditions

We have Recently updated our Terms and Conditions. Please read and accept the terms and conditions in order to access the site

Current Version: 1

Privacy Policy

We have Recently updated our Privacy Policy. Please read and accept the Privacy Policy in order to access the site

Current Version: 1

Artigos

Nos cumes do vazio existencial

0:00

É normal sentir-se vazio? Não sei. O que experimento é uma sensação de não pertencimento a ninguém, a lugar nenhum, a nada. É como se eu estivesse no lugar errado o tempo todo, sendo indesejado pela maioria, até querido por alguns, mas que se mantém alertas à areia movediça que sou, evitando se aproximar demasiadamente, pois jamais saberiam lidar com quem realmente sou. Até entendo que as pessoas preferem manter distância, pois ajo da mesma forma em relação a elas. É como se fosse uma retribuição pelo vazio que lhes ofereço.

Esse vazio é fatigante. Ao mesmo tempo em que ele me desobriga da necessidade de uma busca constante por algo para preenchê-lo, como a companhia de outra pessoa, uma atividade de lazer ou os próprios pecados capitais, como a gula, a luxúria ou avareza, ele me massacra a partir do momento em que se tornou incompreensível. A minha grande jogada é preenchê-lo com os bens imateriais que estão dentro de mim mesmo, mas não é uma tarefa fácil, pois exige maturidade emocional e autoconhecimento.

Epicuro, o grande doutor da felicidade, dividiu as necessidades humanas em três classes. Em primeiro, estão as necessidades naturais e necessárias, como alimentos e vestuário, geralmente fáceis de se conseguir e caso não satisfeitas, produzem dor. Em segundo, as naturais, mas não necessárias, como satisfazer-se sexualmente. Em terceiro, vêm as que não são nem necessárias, nem naturais; são o luxo, a abundância, o esplendor; seu número é infinito e são difíceis de se conseguir. A minha dificuldade é equilibrá-las, mas o mesmo é para todos, então me resguardo da culpa em ser incapaz de resolver essa questão.

O vazio advém de eu não conseguir ser tudo aquilo que esperava, de não alcançar os meus sonhos, de não entregar o prometido, de não encontrar dentro de mim a condição essencial à felicidade humana e, por vezes, a busca-la no mundo exterior; não encontrando a prometida felicidade, que é um conjunto de fatores, acabo caindo no vazio da existência. Schopenhauer afirma que um homem interiormente rico não pede ao mundo exterior senão um dom negativo: o ócio, para poder desfrutar, aperfeiçoar e desenvolver sua riqueza interior. Aristóteles dizia que a felicidade está no ócio e Sócrates encarecia o ócio como a mais formosa das riquezas. Confesso que me equilibrar no ócio, dentro de um grande vazio em busca na inatingível meta de ser feliz, devora-me.

Quando percebo que os valores humanos são falsários na maioria das pessoas, surge uma descrença nelas e na minha própria vida e quando a satisfação imediata não me faz sentido, chegar ao vazio da alma é algo imediato. Ver o mundo de uma perspectiva em que a descrença nos humanos é elevada, é um fardo a mim, um existencialista. Um grande deserto passa a compor a minha paisagem dificultando encontrar vida e qualquer conexão com as pessoas. É perigoso realizar as minhas tarefas tendo a mim mesmo como meio e fim, sem dedicar-me ao outro ou a uma causa maior, pois passo a experimentar uma falta de significado, coerência e propósito profundos.

A grande questão é quando tenho consciência da estrada pela qual me desloco rumo a um vazio sem volta, cada vez mais profundo e melancólico, mas pareço não conseguir mudar de rota. Isso seria uma autossabotagem? Talvez sim, pelo fato de eu ir perdendo o sentido da vida à medida que sigo por tal estrada. Talvez não, pois estou apenas seguindo o curso natural de minha vida ou o meu destino, como muitos creem. Contudo, não creio que eu seja uma daquelas pessoas que acredita que tem o monopólio absoluto do sofrimento.

“Por que eu não me suicido? Porque a morte me enjoa tanto quanto a vida. Não tenho a menor ideia da minha razão de ser aqui no mundo. Sinto, neste momento, uma imperiosa necessidade de gritar, de soltar um uivo que espante o universo. ” – Profundo trecho do livro Nos cumes do desespero, do filósofo romeno, Emil Cioran.

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo