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Artigos

O segredo para uma vida melhor está dentro de você

“Não são as coisas que perturbam as pessoas, mas os pareceres a respeito das coisas. ” Epicteto

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Viver é um verbo corriqueiramente utilizado em nosso dia a dia, contudo grande parte das pessoas não sabem conjuga-lo. Sabem-no, apenas a conjugação do verbo existir. Tais verbos são semelhantes, aparentemente, contudo, em uma análise mais profunda, mostram-se bastante diferentes. No seu sentido transitivo, viver significa estar com vida e ter a vida; como transitivo direto, significa aproveitar a vida no que ela tem de melhor. Já o verbo intransitivo existir, significa ter existência real, ter presença viva; viver, ser. Como predicativo, existir significa ter existência em determinado período de tempo; durar, permanecer, conforma mostra o dicionário Oxford.

Essencialmente, os dois verbos têm sentidos diferentes. Então, viver indica ter a capacidade de transformar, ser ativo, fazer o melhor de seus dias. Existir mostra inércia, passividade; é como se fosse o verbo viver, porém sem vida. Com isso em mente, considera-se que o real sentido da vida está na significação do verbo viver, com o sentido de aproveitar os momentos bons da vida e aprender com aqueles que, aparentemente, à primeira vista, mostram-se desagradáveis, mas que no fundo, acontecem-nos com o objetivo de nos ensinar algo.

A filosofia se ocupa sabiamente de ensinar ao ser humano como é possível viver bem, do mais amplo ao mais íntimo sentido do termo. O Manual de Epicteto, a arte de viver melhor provavelmente é uma das mais célebres obras escritas com esse objetivo. Nele, múltiplos manuscritos do grego antigo mostram a preocupação essencial de Epicteto, que é o comportamento do ser humano em sociedade, o qual deve alinhar e combinar a prática incessante de virtudes, como a tolerância, a benevolência, a discrição, a resignação, a simplicidade, a justiça, a moderação e a coragem, numa postura inabalável de completa indiferença e desprezo pelas coisas e interesses mundanos.

Cada pessoa tem uma concepção do termo em si. Muitos acreditam que viver bem é fazer o que se gosta, outros dizem que é dispender de uma vida tranquila, sem preocupações exageradas; outrossim acreditam que viver bem é cuidar da saúde corporal e mental; também, há aqueles que sustentam a ideia de que para se viver bem é preciso livrar-se dos vícios, buscar equilíbrio do corpo e da alma; alguns acreditam que viver bem é fazer o bem, sem esperar algo em troca. Essas são as concepções da maioria das pessoas, contudo, o grande aumento nos casos de suicídio e depressão, grandes emergências atuais, mostram que, apesar de o ser humano saber o significado de viver bem, não consegue colocá-lo em prática por várias razões que renderiam outro texto.

Para tanto, acredito piamente que a maneira mais imediata e fundamental de transformar o saber em prática reside no conhecimento proporcionado pela filosofia. Desmembrada, a palavra “filosofia” significa amor (philo) e sabedoria (sophia), querendo dizer, então, “amor à sabedoria”, “amor ao conhecimento”. Isso é experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância. No platonismo, filosofia é a investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, ultrapassando a opinião irrefletida do senso comum que se mantém cativa da realidade empírica e das aparências sensíveis, em definição pelo Dicionário Oxford.

À medida que passamos a estudar a filosofia, vamos aprendendo formas de refletir sobre a nossa maneira de viver, como enfrentamos as situações de perigos ou aquelas que nos desagradam; como reagimos às adversidades; como culpamos os outros pelas nossas cóleras, como facilmente nos alienamos e ficamos presos à zona de conforto, entre outras circunstâncias sobre as quais apenas a filosofia nos esclarece com o objetivo de nos levar para longe de uma vida irrefletida. Epicteto diz que diante de cada um dos acontecimentos que atingem a ti, lembra de te voltares para ti mesmo em busca daquele poder que tens para tirar proveito de tal acontecimento.

Dentre os ensinamentos mais preciosos que a filosofia pode nos passar, o qual depois de adquirido, pode, aos poucos eliminar boa parte de nossos vícios e infortúnios é aquele que nos faz entender que o que nos atinge e nos maltrata, normalmente é culpa de nós mesmos. Contudo, o que costumamos fazer é culpar a tudo e a todos pelas nossas infelicidades, porém, a cura para isso está dentro de nós mesmos, jamais externamente. Epicteto diz que é ação de um ignorante acusar os outros dos próprios males; atribuir a culpa a si mesmo é atitude de alguém que dá início a sua educação; aquele que nem acusa os outros nem a si mesmo, já é alguém educado.

O princípio de viver bem a vida começa com a máxima de Sócrates: Conhece a ti mesmo. Esse aforismo indica que o passo fundamental para o verdadeiro conhecimento é conhecer a si mesmo. Tal conhecimento é um processo sem fim pelo qual passamos e nele podemos aprender um pouco mais a cada dia. Conhecer a si mesmo, muda a forma como você interage com o mundo e com as outras pessoas, transformando-o em um ser ativo em sua própria vida que enfrenta as dificuldades, aproveita os seus dias conjugando o verbo viver no modo indicativo e todos os tempos verbais possíveis reflexivamente. O aforismo completo é “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.”

É preferível viver uma vida linear e contida na sabedoria que uma extravagante repleta de altos e baixos; por exemplo, é mais sábio, quando se está em uma festa, beber moderadamente, chegar a casa seguro e acordar sem ressaca e disposto para um novo dia. Do contrário, é estúpido beber desmedidamente, correr o risco de sofrer um acidente no caminho de casa, ir ao hospital desmaiado pela grande quantidade de álcool ingerida, acordar noutro dia com uma ressaca terrível regada a dores de cabeça lancinantes e passar o dia mal sob efeito da impulsividade. Com efeito, Epicteto diz que é melhor morrer de fome livre do sofrimento e do medo, do que viver na abundância com a alma perturbada; melhor ser o teu pequeno escravo uma pessoa má, do que seres tu uma pessoa infeliz. Isso nos mostra que uma vida contida, sob medida ou até com menos do que aquilo que almejamos, tem mais efeitos positivos sobre nossa felicidade.

Tão importante quanto, viver bem necessita que entendamos que os eventos externos são alheios à nossa vontade, portanto fora de nosso controle. Sendo assim, é tolice preocupar-se com a opinião dos outros em nossas vidas, por exemplo. Devemos sim, ignorá-las, devido ao fato de que não podemos ser marionetes de terceiros jamais permitindo que controlem nossos pensamentos e atitudes, ou seja, nossa vida. Epicteto afirma que não é aquele que te insulta ou aquele que te agride os agentes da violência, mas sim a tua opinião de que eles são violentos contigo. Por conseguinte, quando alguém te provoca, saiba que foi tua própria opinião a responsável pela provocação.

Portanto, para aproveitarmos a vida saudavelmente, é necessário que nos conheçamos, em primeiro lugar. Depois, é preciso que não deixemos os eventos externos nos afetarem, que aprendamos com as situações que nos sãos desfavoráveis, que nos livremos dos vícios mundanos que nos alienam afundando-nos em um mar de preocupações, exageros e desejos sem limites. Por fim, que busquemos aprender cada dia um pouco sobre o mundo que nos rodeia, que aceitemos a morte como um fim seguro que nos restitui ao universo e que aprendamos a viver o presente, sem preocupação com o futuro, o qual não existe, nem com o passado, que tampouco existe.

Cassio Felipe

Professor, Escritor e Jornalista Especialista em Relações Internacionais e Diplomacia

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